15 setembro, 2010

EXPOSIÇÃO “ALGARVE – DO REINO À REGIÃO” - Em Tavira, à descoberta do mundo rural

Foto: Marta Santos


No seguimento de anteriores apontamentos alusivos ao projecto expositivo “Algarve – Do Reino à Região” desenvolvido pela Rede de Museus do Algarve, apresenta-se “Cidade e Mundos Rurais. Tavira e as Sociedades Agrárias” patente no Palácio da Galeria/Museu Municipal de Tavira. Uma exposição que procura revelar ao público diversos aspectos do mundo rural e da sua relação com a cidade que o polariza. Com uma imagem gráfica atraente e um discurso dinâmico, onde a ideia subjacente à escolha e disposição de cada objecto é, mais do que contar a sua história, colocá-los a falar da(s) sua(s) história(s), numa estratégia de interacção com o público.

O percurso por onde segue o visitante inicia num pequeno vestíbulo, onde se pode ver a imagem da exposição, recriando um jardim público. Cena composta por um tradicional banco a evocar a permanência dos caminhantes naqueles espaços, esboçando ao mesmo tempo um convite. É assim estabelecida uma primeira identificação com o público.

A divisão seguinte ocupa-se das Transformações do Território, incidindo especialmente sobre as heranças do período islâmico, sobretudo o património ligado à gestão da água (como a criação de estruturas hidráulicas) ou a dinâmica de ocupação dos espaços urbanos e rurais no território de Tavira. Um vídeo elaborado com a participação de diversos investigadores, contribui para descrever uma imagem geral do território. Fala-se também da arquitectura vernacular dos Montes do Barrocal e da Serra, e dos seus atributos. A presença de uma caixa de materiais de construção (elementos vegetais e pétreos) permite, através do toque, uma melhor percepção da sua natureza. Já na sala das Economias Agrárias realçam-se as actividades que ao longo do tempo foram adquirindo maior importância. As tecnologias ligadas à moagem, a produção de azeite ou a migração das populações. Este último aspecto salientado com a apresentação de um livro de Guias de Transição para Espanha, cujas cópias acessíveis podem, e são, frequentemente consultadas pelos locais em busca de nomes conhecidos. Uma nota ainda para a importância da Escola Agrária de Tavira transformada em referência de uma alargada região. Outro vídeo, este da Cinemateca Portuguesa, em exibição permanente, mais focado no tema das cooperativas completa este quadro.

A temática seguinte prende-se com a ideia do Rural na Cidade. Procura identificar aspectos do mundo rural que podem ser observados no núcleo urbano, como a impressão exercida pelas antigas hortas e jardins conventuais. Aqui contempla-se sobretudo o aspecto mais imaterial do património. Neste sentido, para além da carga simbólica inerente à concepção dos jardins, revela-se um pouco dos seus aromas característicos em pequenas caixas para toque e cheiro de ervas aromáticas. Surge depois a sala dedicada às Artes e Artesãos, onde se podem observar alguns vestígios arqueológicos ligados ao têxtil e, peça relevante, um magnífico tear de pedais com dois liços, o tipo mais comum do nordeste algarvio. Observando-o, facilmente nos interrogamos acerca da beleza e arte do ofício daquelas que os manuseiam. Será certamente uma das peças que mais dirá ao público, tanto ao nível do próprio trabalho do tear, como do seu resultado final. Outro elemento interessante deste conjunto é um arado do tipo de garganta com rabiça e dente, o mais adequado para trabalhar as terras pedregosas daquela região.

Posteriormente descobrem-se as Sonoridades, nomeadamente aquelas que se aliam às tecnologias de trabalho na terra. Expõem-se vários instrumentos musicais tradicionais que parecem convidar o público a mexer-lhes. Acrescenta-se à experiência algumas gravações de cantorias e sons do trabalho. Já o painel dedicado aos Rituais e Festividades tradicionais remete para os “encontros” entre os habitantes da cidade e os do meio rural, sempre ritmados por episódios como as feiras e mercados, colheitas, e festas tradicionais como o Natal, a Páscoa ou os santos populares. Para finalizar, encontram-se na última sala vídeos, fotografias e cartazes de propaganda referentes às Alterações do Mundo Rural nas últimas décadas, aludindo à relação das politicas do Estado Novo com este meio, ou da afirmação da ruralidade enquanto produto turístico, e, o que é notável, testemunhos de quem habita hoje no campo e das suas perspectivas de vida.

Todo este percurso está desenhado para que o público participe e usufrua da exposição. É deste modo que se valoriza bastante o estímulo dos sentidos, conseguido através das já referidas estratégias expositivas, que apostam na qualidade gráfica das imagens, assim como na sua disposição e concepção; em vídeos e registos sonoros; ou em diferentes objectos que “pedem” para ser tocados e experimentados, nomeadamente flores para cheirar e sentir. Na verdade, convocam-se quase todos as faculdades sensitivas nesta abordagem ao território, transformando a visita num roteiro bastante apelativo, até mesmo para o público juvenil, que é importante “conquistar” para estes espaços.

A complementar a exposição realizam-se regularmente várias actividades sobre temas diversos, alguns dos quais não contemplados na mostra, mas que acrescentam qualidade ao projecto. Para participar nestas actividades ou em visitas guiadas os interessados podem contactar os serviços do Museu Municipal de Tavira.

(Este artigo faz parte de uma série de apontamentos alusivos ao projecto "Algarve, do Reino à Região", publicados por vários autores do CEPHAUAlg, semanalmente, no Jornal do Algarve. Foto: Marta Santos)

02 agosto, 2010

Forno de pão



















































Forno de pão
Upload feito originalmente por Susecris

Um tradicional forno de pão ainda no núcleo mais antigo de São Bartolomeu de Messines




19 dezembro, 2009

Algarve

“O Algarve, para mim, é sempre um dia de férias na pátria. (…)
A brancura dos corpos e das almas, a limpeza das casas e das ruas, e a harmonia dos seres e da paisagem lavam-se da fuligem que se me agarrou aos ossos e clarificam as courelas encardidas que trago no coração. (…) A terra não hostiliza os pés, o mar não cansa os ouvidos, o frio não entorpece os membros, e os frutos são doces e sempre à altura da mão. (…)
Moiros encantados numa moirama sem areais, vivem da graça que só a raros sítios do mundo a natureza concedeu. Os caminhos não têm abismos, não há fragas estéreis e agressivas, não se vê outra neve a não ser a das corolas abertas, e as fainas do mar são tão lúdicas como as da terra. (…)
Ainda mais acolhedora do que o dia, a noite apaga todas as contradições. E, coberta por um manto de estrelas dum resplendor de festa, a alma, em vez de adormecer como de costume, sonha.
Pela manhã, passada a embriaguez, a razão alarma-se e protesta. É impossivel que tudo seja tão doirado e perfeito! Há-de por força haver uma realidade mais dura por detrás do biombo! Os sentidos mentiram. Deixaram-se embebedar pelo vinho capitoso das aparências. (…)
Não, eu não consigo ver o Algarve senão como a miragem dum céu deste mundo, sem nenhum dos atavios que alvitam a condição dum céu. A ideia que tenho dum paraíso terrestre, onde o homem possa viver feliz ao natural, vem-me dali. Casas cujos telhados, nem de colmo, nem de lousa, sejam açoteias de harém para um amor livre e espontâneo ao luar; gente que se não cubra de croças nem de pelicos, mas ponha a sombra preguiçosa dum guarda-sol sobre a quentura do corpo; e figueiras pequeninas, anãs, sem toco, onde nenhum Judas se possa enforcar de remorsos. Um paraíso em que a maceração cristã não entre de maneira nenhuma.”


Miguel Torga, “O Algarve”, in Portugal, pp.93-96

21 agosto, 2009

Serra do Mú


Serra do Mú
Upload feito originalmente por Susecris

06 julho, 2009

Beleza


"...
Porém Cacela
Foi desejada só pela beleza"


Sophia de Mello Breyner Andresen

23 junho, 2009

Uma Mão de Fátima no Alhambra


Mão de Fátima
Upload feito originalmente por Susecris

Numa porta do Alhambra... o tradicional batente que nas margens do Mediterrâneo evoca a protecção da filha de Maomé...

Acerca sa presença deste amuleto nas portas do sul, pode ler-se por exemplo, o que foi escrito aqui: http://lugaresdosul.blogspot.com/2008/04/mos-de-ftima.html