09 abril, 2007

O coreto de Loulé







Os coretos algarvios embora sejam elementos de interessante valor arquitectónico e cultural do panorama algarvio desde o séc. XIX, têm sido, até à data, pouco estudados. Contrariando a tendência surgiu recentemente um trabalho de final de licenciatura do curso de Património Cultual da UALG que aborda, ainda que sinteticamente, os coretos do Algarve. Embora no que respeita a cada coreto algarvio a informação seja restrita, a autora apresenta também uma interessante contextualização do papel do coreto nas diferentes localidades onde estava representado, abrindo o apetite ao leitor, revelando-lhe ferramentas para uma investigação mais profunda.
Relativamente ao nosso coreto aqui em Loulé podemos verificar, (e algumas das informações estão mesmo contidas naquele trabalho), que se trata de uma obra do século XX, construida entre 1901 e 1926. Visto não se conhecer referência a uma data concreta, apenas se pode induzir colocando-a entre estas duas balizas, já que 1901 é o ultimo ano onde, segundo a informação disponível, se verificam registos de se armarem coretos de caracter provisório para a actuação de bandas em diversos locais da cidade; em contrapartida em 1926 aquando das obras de construção da Avenida José da Costa Mealha, aparece nas actas de sessão camarária referência à já existência do coreto naquele terreno, embora pareça, segundo algumas fotografias antigas e informação verbal, ter mudado de local, situando-se presentemente mais acima no espaço da mesma avenida.
Descritivamente, este coreto é de planta octogonal, com base em alvenaria e cantaria nos cunhais, possui gradeamento e colunas em ferro fundido à semelhança de outros exemplares algarvios. A cobertura é feita em chapa de zinco e sustentada por estrutura de ferro. Inspirado nas tendências da Arte Nova, possui no cimo uma lira de ferro, simbolo dos musicos e que actualmente nos recorda a sua primordial função. Não consegui nenhuma prova documental mas persiste na memória local a existência de um lago ao redor do coreto, à semelhança do que se vê em Tavira, que teria sido destruido quando se construiu as casas de banho públicas no seu interior.
A localização ideal para um coreto seria numa praça ou jardim, onde na sua origem foram implantados, no entanto o coreto de Loulé localiza-se no meio da avenida mais movimentada da cidade, constituindo-se à sua volta uma placa giratória que cumpre a função de rotunda. Mesmo sendo inegável que aquela configuração da avenida é do ponto de vista funcional de extrema importância para o escoar do transito, não deixa de ser lamentável que este equipamento urbano, ao estar rodeado por uma via de circulação não possibilite aos cidadãos o melhor usufruto. Ainda que nas ocasiões em que se organizam na Avenida José da Costa Mealha alguns eventos de caracter lúdico ou desportivo, o coreto tenha sido muitas vezes utilizado como plataforma de apoio, ultimamnte isso não se tem verificado com a mesma visibilidade. Têm-se construido, nomeadamente no Carnaval, outros pontos de apoio de maior dimensão. Seria interessante, porém, que a tendência se invertesse e que o coreto podesse ser “devolvido” à cidade na sua vertente cultural, sendo utilizado mais frequentemente como protagonista de eventos citadinos.

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