Em atravessando o rio, morri!
Jamais outra verdade foi mais lúcida!
Morrerei, pois atravesso pelo meu pé a ultima
ponte que me separa da minha boa vontade.
Só eu, que me declaro o maior pecador,
só eu transporto o fardo das matérias impossíveis,
inflamáveis, venenosas, calando, calando sempre
aob o signo da concórdia
as afrontas que nenhum coração quer.
Atravesso a pé. Deixo Caronte surpreso.
De Portimão a Ferragudo imagino a
minha história como um desenho animado
construído em sucessivas analepses.
Atravesso a pé e ando em frente,
mas a minha história moira roda ao contrário
e somos, assim mesmo, eu e a memória,
uma bela mandala imaterial.
Pedro Miranda Albuquerque
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