Barcos na Ria
Os barcos que na ria
traçam rápidas vias
de espuma e o meu dia desafiam
saltam à luz que é musica
aumentando
até quase tornar
impossível abrir os olhos neste dia
que verdadeiramente não parece
meu como noutra idade eu o sentia
O sol dilata e faz subir o céu
desconhecidos
os corpos contra a água
verde e azul agora calma frente à casa
Nenhum barco
já passa há um
silêncio que só o diminuto
murmúrio da maré crescendo
molha Mas outros barcos vêm e recortam-se
velozmente na água que retalham
Este poema de Gastão Cruz pertence ao livro Crateras publicado em 2001, embora tenha sido retirado da colectânea Algarve todo o mar, publicado pela Dom Quixote.
Gastão Cruz é um poeta de Faro, nascido em 1941, que se torna conhecido do público essencialmente por pertencer, juntamente com poetas como Ramos Rosa ou Casimiro de Brito, à denominada "Poesia 61". Este movimento estético-literário, se assim se pode dizer, desenvolve uma obra poética inspirada em pricípios ligados à revalorização da forma e sobretudo à importância da palavra em sim mesma relativamente à mensagem veiculada. Segundo os críticos, para esta Geração de 60 importa sobretudo o valor da Palavra enquanto objecto centra do texto poético. Nesta medida desenvolve, entre Abril de 1958 e Fevereiro de 1960, os Cadernos do "Meio-Dia", cujo próprio nome sugere temáticas, ou metáforas, ligadas ao mediterrâneo.
A poesia de Gastão Cruz parece sofrer sempre a influência das ideologias que determinaram aquele movimento, nomeadamente no que respeita à estética e à centralidade da Palavra. Esta é vista como um ponto vital a ser trabalhado, a personagem principal do poema a partir da qual se pode construir sentido(s). Neste processo estamos perante uma poesia muito rica e culta onde se percebe uma grande intertextualidade que (também) conduz o leitor a outros caminhos. É, para além disso, uma poesia cujas temáticas apontam muito para o real e o concreto permitindo percepções quase objectivas da leitura.
Licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Gastão Cruz é docente do ensino secundário. Para além da poesia tem desenvolvido trabalhos como critico literário em publicações como Diário de Lisboa, Seara Nova, Colóquio/Letras e A Critica, que originaram, por exemplo, A Poesia Portuguesa Hoje, obra de referência relativa à produção poética da década de 70. Para além de vasta obra obra literária e de critica, traduzida em vários países, e de poemas publicados em várias Antologias e Publicações Colectivas, tem ainda desenvolvido diversos trabalhos na área da produção teatral.
1 comentário:
O meu Gastão... LOL.
Adorei.
Bjs
Ana Paula
meia lua de sabao
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