31 julho, 2007

Al - Kuthayyir, um "louletano" do séc. XIII




“O que me dá prazer não é o vinho, não!
nem a música, nem o canto.
Apenas o estudo é o meu encanto,
e a pena, qual espada sempre à mão.”



Abu – L – Rabi Sulayman ibn’ Isa al – Kuthayyir que terá vivido na al`- ‘Ullyã do séc. XIII foi um dos vários poetas luso – árabes cujo legado enriquece a nossa cultura tanto ao nível do literário como do espiritual.
Este pequeno poema parece remeter, segundo os estudos de Adalberto Alves, para o ideal da cavalaria espiritual, uma das vias do sufismo. Esta via do pensamento sufi persupõe um esforço intelectual com vista ao aperfeiçoamento espiritual para uma aproximação de Deus. A espada simboliza o poder do intelecto na polaridade paz/guerra que se traduz numa batalha interior.
Al – Kuthayyir atingiu alguma fama enquanto literato tendo vivido em Sevilha e depois em Bugia. Provavelmente devido a alguma critica nos seus escritos direccionada a elementos com poder na sociedade, foi açoitado e espancado em praça pública e depois expulso para além mar, onde se estabeleceu em Minorca.

23 julho, 2007

A Mesquita em Al' - 'Ullyã


É certo que a antiga Al’ – ‘Ullyã foi urbe de considerável importância durante o domínio árabe do Gharb, nomeadamente no período alomôada quando se tornou Medina. Como qualquer cidade islâmica tinha a sua mesquita que se acredita corresponder ao edifício da actual igreja matriz. Embora não exista ainda comprovação científica desta teoria que só seria possível com a realização de intervenções arqueológicas, esta hipótese parece sustentar-se em alguns argumentos sólidos.
À partida o que se evidencia na observação da igreja é a sua torre sineira, o que constitui primeiro ponto de ligação com esta hipótese. Embora sejam visíveis na torre diferentes fases de construção (sobretudo no que respeita ao seu coroamento superior) o seu embasamento denuncia, na forma de organização da silharia, uma tradição construtiva antiga que se assemelha na técnica de montagem, à de um minarete. Assim, a torre sineira da matriz de Loulé seria um dos poucos minaretes que efectivamente ainda existem em território português. Por outro lado, a orientação da torre, assim como as suas dimensões, relativamente à igreja e a própria orientação interna do templo que escapam aos cânones construtivos das igrejas cristãs e remetem mais uma vez para a orientação do templo muçulmano.
Observando a igreja e reconstituindo a sua planta ao nível do arranque das janelas, isto é despojando-nos daquilo que é acrescento e modificação térrea ao longo dos tempos, encontramos o eixo de orientação sul/sudoeste correspondente à direcção de Meca, essencial numa mesquita. Esta planta teria uma forma quadrada com o tramo central mais largo evidenciando o mihrab na parede da quibla, a chamada planta em T, característica também essencial numa mesquita, à semelhança do que acontece na matriz de Mértola que seria também a antiga mesquita do povoado islâmico.
Outras características construtivas que remetem para o séc. XIII são, por exemplo, os vestígios de um arco em ferradura na nave principal ao nível do clerestório, ou os capitéis, que parecem datar do séc. XIII e XIV. Embora a decoração vegetalista possa ser atribuível tanto a fábrica islâmica como cristã, alguns destes capitéis podem ser islâmicos ou compostos de reaproveitamentos islâmicos.
A transformação de mesquitas muçulmanas em igrejas cristãs foi uma prática corrente durante a “reconquista”, simbolizando, no poder instituído, a passagem do Islão para a cristandade em cada cidade, constituindo até, tarefa relativamente fácil. Neste caso teria sido mudada a orientação do templo, fechado aberturas, aberto a porta de entrada da igreja e localizado o altar-mor à sua frente.

A exploração por parte da autarquia da imagem da Igreja de São Clemente associada à antiga mesquita seria uma mais valia para promover a cidade em termos turísticos e culturais.

12 julho, 2007

Desenhos de Calçada




Outros exemplos de desenhos de Calçada à Portuguesa existentes nos lugares do Algarve, estes dois da Rua de Santo António em Faro

11 julho, 2007

Calçada à Portuguesa




O mosaico português ou calçada portuguesa tal como hoje observamos um pouco por todas as regiões do país, foi aplicado pela primeira vez em Lisboa no ano de 1848, no pavimento da placa interior do Rossio após a construção pombalina. Entre 1880 e 1889 onde foi novamente utilizado na Avenida da Liberdade, generalizou-se pelo país chegando inclusive ao Brasil, Madeira, Açores e Macau, constituindo elementos decorativos de praças, largos e jardins contribuindo para os valorizar, compondo diversos motivos sugestivos conforme a inspiração do lugar.
A calçada portuguesa será uma derivação oitocentista de via romana próxima de uma técnica, opus sectile, que utilizava pedras e mármores talhados geometricamente ou recortados consoante as figurações.
Neste tipo de trabalhos de calçada faz-se um desenho prévio que é transposto na escala da respectiva aplicação para molde de madeira que é colocado no passeio alguns centímetros abaixo do nível. Depois de colocada a pedra no molde, cobre-se de areão e cal viva, posteriormente retira-se o molde, espalha-se uma camada de areia e rega-se, com um cilindro pisa-se o empedrado para o nivelar e ajustar.
A pedra é aparelhada na palma da mão pelos artesãos que formam tesselas, rectângulos, triângulos e outros fragmentos irregulares conforme as necessidades de preenchimento de cada desenho, compondo-se de determinadas cores variáveis conforme a facilidade de arranjar determinadas pedras.
Quanto ao motivo dos desenhos podem ser evocativos de situações históricas ou de memória local, pretexto de alguma informação citadina, ou simples motivos vegetalistas, naturalistas ou geométricos. Dentro destes complexos de desenhos abstractos também é visível o geometrismo de matriz muçulmana equivalente ao padrão de azulejos, que se compõem dum enxaquetado de quadrados com ângulos no sentido axial, hexágonos e formas estrelares concêntricas. Estes fazem lembrar os zelliges que ornamentam as casas marroquinas, mosaicos de composições complexas que podem ser, por exemplo, motivos geométricos entrelaçados irradiando de uma estrela central, a “teia de aranha do Profeta”, ornamentos de carácter vegetal constituídos por flores entrelaçadas ou favos de abelha. Nestes mosaicos são utilizados pedaços de cerâmica partida para criar desenhos geométricos conforme as intenções do artista. Os painéis são compostos no solo em cima de uma tábua virada ao contrário antes de serem aplicados na parede.
Em Loulé é utilizada a calçada com ou sem ornamentação em todo o centro histórico assim como nas ruas mais centrais e movimentadas das cidades. Os desenhos são feitos com pedra escura que sobressai do fundo claro, os motivos são normalmente de cariz naturalista e vegetalista. Noutras localidades, como por exemplo em Quarteira, calçadas mais recentes podem ver-se com motivos que remetem para as realidades locais, como o desenho de peixes em calçadas junto ao mar.
Este trabalho de calçada à portuguesa deve ser visto como uma mais valia do ponto de vista urbanístico em cada localidade, pois este tipo de pavimento além de embelezar, confere continuidade e conexão ao espaço público, acentuando a sua identidade. Havendo cada vez menos artesãos especializados, a calçada à portuguesa é um valor patrimonial a preservar urgentemente.

08 julho, 2007

Algarve


O mistério do mar,
O milagre do sol
E a graça da paisagem
Na moldura dos olhos.
E a paz feliz de que tenho o que é meu.
Ah, terra bem amada!
Bénção da natureza
Caiada
De pureza
E nimbada
De saudade.
Algarve. Liberdade
Dos sentidos.
Férias ao sul
Da imaginação.
Ainda a mesma nação,
Mas com outros sinais.
E a memória também
De que todo o além
Começa neste cais.



Miguel Torga