21 maio, 2008

MESA – Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar





O Museu da Escrita do Sudoeste procura retratar e divulgar alguns dos primeiros testemunhos da escrita num vasto território que se estende por Portugal e Espanha e que corresponde em traços gerais ao sudoeste da Península Ibérica. Este singular modelo de escrita, denominado Escrita do Sudoeste, é o mais antigo sistema de escrita até agora conhecido em toda a península e terá, segundo os especialistas, entre 2500 a 2800 anos. No entanto, de acordo com os conhecimentos actuais, pensa-se que terá durado escassos séculos e deixado poucos vestígios na língua que se conheceu posteriormente, o que constituirá a causa provável das muitas duvidas e dificuldades que hoje surgem quanto à sua interpretação.
O facto desta escrita se ter desenvolvido na região acima mencionada permite-nos comprovar uma grande comunicação e proximidade entre o Ocidente e o Oriente, nomeadamente no que respeita, não só à sua matriz fenícia, mas também à existência de vários símbolos do alfabeto grego. Outro aspecto prende-se com o facto da Escrita do Sudoeste se organizar da direita para a esquerda obedecendo a uma tradição muito antiga originária do Oriente, tal como ainda hoje se vê na escrita árabe, denominada escrita sinistorsa. Ao contrário a orientação do nosso sistema de escrita actual deriva da tradição romana, muito mais recente.
A exposição apresenta de modo muito apelativo um conjunto de estelas de diversos pontos do Alentejo e Algarve, nomeadamente de Loulé ou Silves, mas um dos aspectos mais interessantes será a forma sugestiva como procura representar a evolução daquele conhecimento pelas comunidades que o usaram, estabelecendo uma ponte e um paralelo entre os símbolos de outrora e os símbolos e ícones de hoje. Estas estelas de xisto fazem parte de um conjunto de suporte para quase uma centena de inscrições, por vezes fragmentadas, e constituem, na maioria dos casos pedras sepulcrais que correspondiam à cabeceira das sepulturas. Desta quase centena de inscrições que se espalham por toda a zona do sudoeste, mais de metade concentram-se na região de Almodôvar, daí a pertinência da localização do museu, embora tendo sempre presente a representatividade e importância de uma “antiga” região muito mais vasta.
Um dos artefactos mais interessantes que se podem ver na exposição é uma laje proveniente de Espanca, no Concelho de Castro Verde. Esta laje, com cerca de 40 cm de comprimento, conserva uma gravação em duas linhas de caracteres, uma das quais parece ter sido produzida pelo mestre e a outra, menos perfeita e mais irregular, supõe-se ter sido imitada pelo aprendiz. Isto permite-nos supor que, relativamente ao processo de aprendizagem do ofício, não seria acessível a todos e que provavelmente teria um longo período de aprendizagem da técnica, mas a particularidade mais interessante do documento é a representação de todos os signos e símbolos que compunham o sistema de escrita que seria equivalente ao nosso abecedário.
A presença destas comunidades que usavam a escrita, e que seriam certamente evoluídas, leva-nos a especular quais os atractivos que a região oferecia na época. Pensa-se que, para além dos recursos ligados à agricultura e pastorícia, teriam sido as inúmeras riquezas mineiras as mais largamente exploradas.
Enquanto centro representativo e difusor de um conhecimento tão interessante, até mais porque pouco divulgado entre o público em geral, o Mesa é um Museu que vale a pena explorar, assim como as realidades que se elaboram em seu redor e que permitem imaginar e reconstituir um pouco mais das sociedades daqueles que terão sido os nossos antepassados.







A informação científica utilizada para elaborar este texto foi recolhida do Catálogo da Exposição Mesa – Museu da Escrita do Sudoeste de Almodôvar, cujos textos são da autoria do Prof. Doutor Amílcar Guerra.

1 comentário:

João Carlos Santos disse...

Em Maio vou passar por ai, espero que seja interessante.