05 setembro, 2008

Gárgula


Uma bonita gárgula na Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, em Silves.

19 agosto, 2008

Culto do Sol?!


Diz-se que no culto do sol que era feito em tempos antigos, o astro-rei era simbolizado por uma pedra menir e que posteriormente se verifica o culto das pedras mesmo associado a figuras e divindades antropomórficas, comum em quase toda a Europa, nomeadamente em locais isolados onde a própria natureza detinha um forte impacto magnético sugerindo a presença do divino. Como outros cultos e crenças populares com raízes longínquas, é interessante pensar que poderá ter persistido no tempo, sobrevivendo em “pequenos” vestígios comportamentais.
Em 1894, Leite de Vasconcelos, visitou a costa vicentina e o promontorium sacrum, onde testemunhos antigos denunciam o culto das pedras como evocação do Sol, em busca de alguns vestígios que lembrassem o passado. Impressionou-se com o facto de encontrar a superstição dos moledros ou moledos, isto é montículos de pequenas pedras que o povo costumava manter ao longo da costa cuidando deles como de coisa importante e de respeito. Colectou ainda algumas notícias acerca das superstições dos moledros…



Sugestiva foto de Fevereiro de 2008, algures na Costa Vicentina.

25 julho, 2008

Barcos na Ria

http://www.flickr.com/photos/susecris/1411400853/


Barcos na Ria






Os barcos que na ria

traçam rápidas vias

de espuma e o meu dia desafiam

saltam à luz que é musica

aumentando

até quase tornar

impossível abrir os olhos neste dia

que verdadeiramente não parece

meu como noutra idade eu o sentia

O sol dilata e faz subir o céu

desconhecidos

os corpos contra a água

verde e azul agora calma frente à casa

Nenhum barco

já passa há um

silêncio que só o diminuto

murmúrio da maré crescendo

molha Mas outros barcos vêm e recortam-se

velozmente na água que retalham




Este poema de Gastão Cruz pertence ao livro Crateras publicado em 2001, embora tenha sido retirado da colectânea Algarve todo o mar, publicado pela Dom Quixote.
Gastão Cruz é um poeta de Faro, nascido em 1941, que se torna conhecido do público essencialmente por pertencer, juntamente com poetas como Ramos Rosa ou Casimiro de Brito, à denominada "Poesia 61". Este movimento estético-literário, se assim se pode dizer, desenvolve uma obra poética inspirada em pricípios ligados à revalorização da forma e sobretudo à importância da palavra em sim mesma relativamente à mensagem veiculada. Segundo os críticos, para esta Geração de 60 importa sobretudo o valor da Palavra enquanto objecto centra do texto poético. Nesta medida desenvolve, entre Abril de 1958 e Fevereiro de 1960, os Cadernos do "Meio-Dia", cujo próprio nome sugere temáticas, ou metáforas, ligadas ao mediterrâneo.
A poesia de Gastão Cruz parece sofrer sempre a influência das ideologias que determinaram aquele movimento, nomeadamente no que respeita à estética e à centralidade da Palavra. Esta é vista como um ponto vital a ser trabalhado, a personagem principal do poema a partir da qual se pode construir sentido(s). Neste processo estamos perante uma poesia muito rica e culta onde se percebe uma grande intertextualidade que (também) conduz o leitor a outros caminhos. É, para além disso, uma poesia cujas temáticas apontam muito para o real e o concreto permitindo percepções quase objectivas da leitura.
Licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Gastão Cruz é docente do ensino secundário. Para além da poesia tem desenvolvido trabalhos como critico literário em publicações como Diário de Lisboa, Seara Nova, Colóquio/Letras e A Critica, que originaram, por exemplo, A Poesia Portuguesa Hoje, obra de referência relativa à produção poética da década de 70. Para além de vasta obra obra literária e de critica, traduzida em vários países, e de poemas publicados em várias Antologias e Publicações Colectivas, tem ainda desenvolvido diversos trabalhos na área da produção teatral.

15 julho, 2008

Quarteira - Placa Topinímica do ACP



Placa topinímica do Automóvel Clube de Portugal que marcava, em Quarteira, a entrada da vila. Estas placas foram colocadas pelo ACP no inicio do séc. XX nas principais localidades e vias de comunicação de forma a orientar os viajantes do turismo que se desenvolvia, mas também como uma marca de distinção e referência.
Estas placas são constituidas por letras individuais feitas em série e pintadas á mão em quadrados de azulejo que são agrupados formando as palavras pretendidas. No cimo do topónimo é visivel a sigla do ACP em letras entrelaçadas.
É de todo o interesse preservar este património na medida em que traduz a memória e retrata uma época e uma sociedade cultural com uma história e uma identidade própria.
Acerca destas e de outras placas toponímicas pode ler-se o artigo escrito aqui.

08 julho, 2008

Janela antiga


Janela
Upload feito originalmente por Susecris
Uma bonita janela na Aldeia de São Marcos da Serra

30 junho, 2008

Mouras (des)encantadas no São João

Noite de São João – 23 de Junho



A noite de São João é uma nomeação cristão de uma tradição imemorial que assinala o solstício de Verão num exemplo de sincretismo religioso e cultural. Esta época do ano remete para um conjunto de crenças e tradições ancestrais que celebram a vida e a criação associada à terra e ao sol. De propriedades mágico-simbólicas milenares, esta noite é também conhecida pela particularidade de se puder aceder ao “Portal do Templo” que marca a ligação entre dois mundos, o material e o imaterial. Nesta medida, é a noite ideal para desencantar mouras. As mouras que por todo o Algarve estarão encantadas, numa situação ambígua entre o espírito e a matéria, em locais sugestivos como poços ou fontes, têm nesta noite especial a possibilidade de, mediante uma ajuda exterior que terá de cumprir um ritual pré-estabelecido, serem desencantadas e acederem ao mundo humano.
Esta magia decorre também da água, do facto de ser a atribuição simbólica da origem da vida e da bênção divina e das fontes e dos poços puderem também conduzir ao mundo subterrâneo onde se acredita existirem tesouros e maravilhas. Para além disso, a água à meia-noite de São João é benta e livra de feitiços. Aparece, portanto, com o seu significado simbólico reforçado.
Este aspecto do Maravilhoso que se pode assumir como um desregramento do quotidiano é “visível” em inúmeras histórias e lendas por todo o sul da Península e particularmente na região do Algarve, como no exemplo transcrito, como elemento de marca e interpretação da paisagem.



“As três filhas


Perto do ribeiro de Cacela Velha existia um bujanco (poço sem gargalo) onde um mouro encantou as suas três filhas, quando chegaram os cristãos a Cacela. Mais tarde partiu para a sua terra.
Passado algum tempo, o mouro encontrou um almocreve a vender azeite com o seu burro e perguntou-lhe donde vinha e ele disse que vinha de Cacela. O mouro perguntou-lhe se ele conhecia o bujanco que ficava perto das abas de uma oliveira junto ao ribeiro e ele disse-lhe que o conhecia muito bem. Então o mouro pediu-lhe para ele lhe desencantar as filhas que estavam encantadas no bujanco e ele disse-lhe que sim.
O mouro deu uma bolsa com três pães ao almocreve para na noite de São João à meia-noite lhe desencantar as filhas e depois pediu-lhe para ele saltar de costas por cima de um alguidar de barro cheio de água. O almocreve saltou por cima do alguidar e desapareceu. Mais tarde apareceu na sua casa, em Cacela. O homem pegou na bolsa com os três pães e guardou-a debaixo do poial dos cântaros não dizendo nada à mulher.
A mulher do almocreve, que era muito curiosa, ao ver a bolsa abriu-a, tirou um pão e começou a cortá-lo, mas ao ouvir um grito, assustou-se e abandonou o pão.
Na noite de S. João, à meia-noite, o almocreve foi ao poço desencantar as mouras. Quando lá chegou lançou o primeiro pão e desencantou a primeira moura, depois lançou o segundo pão e desencantou a segunda e por fim lançou o terceiro pão e do fundo do bujanco ouviu-se uma voz que lhe disse:
- Não me dás desencantada porque tenho eu uma perna corta.
E ali ficou encantada no bujanco, até aos dias de hoje.

Passei pela rua das gulosas deram-me um pratinho de conquilhas.
Passei pela rua das mentirosas tornou-se tudo em mentiras.
E assim acabou a lenda…”



Contada por João Filipe Sol Pereira (nascido em 1985), em Santa Rita, Vila Nova de Cacela




Mourinhos e Mouras Encantadas em Cacela
Recolhas de Maria Emília Fernandes
Edição da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e do Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela
2007